Lição 09 – 27 de agosto de 2023 – Editora BETEL
Habacuque – o justo pela sua fé viverá
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Sobre Habacuque
Autor: Nada sabemos a
respeito de Habacuque fora das informações prestadas neste livro, mas mesmo
aqui ele não nos fornece sua genealogia nem nos diz quando profetizou. O
próprio nome é aparentado de um vocábulo assírio, que significa uma planta ou
vegetal. Na Septuaginta, seu nome aparece como Ambakoum. Jerônimo a
derivou de uma raiz hebraica que significa “segurar”, e disse que: “ele é chamado ‘Abraço’ ou por causa de seu
amor ao Senhor, ou porque lutava contra Deus”.
Lutero, e muitos comentadores modernos, têm favorecido a mesma derivação.
Certamente não é derivação inapropriada, pois neste pequeno livro vemos um
homem, em ânsia mortal, em luta com o grande problema da teodiceia - a justiça
divina - em um mundo desordenado. Encontramos a mesma espécie de conflito no
mais volumoso livro de Jó.
Habacuque
foi o primeiro profeta a questionar não a Israel, porém a Deus. O livro contém um
solilóquio entre ele mesmo e o Todo-Poderoso. O que o deixava perplexo era a
aparente discrepância entre a revelação e a experiência. Ele procurava
explicação para isso. Nenhuma resposta direta é dada à sua interrogação, mas
é-lhe assegurado que a fé paciente terminará saindo vencedora (Habacuque 2.4).
Ele expressa sua fé mui vividamente, em Habacuque 3.17-19, onde o sentimento
encontra um eco mais recente, no hino de William Cowper: “Deus é Seu próprio intérprete, e Ele deixará
claro”.
Por
causa do arranjo musical do capítulo 3, alguns têm pensado que Habacuque foi
levita. É possível que ele tenha sido membro de um grupo profissional de
profetas, associados ao templo (1 Crônicas 25.1). Ele é o único dos profetas
canônicos que a si mesmo chama de “profeta” (Habacuque 1.1), e julga-se que isso indica posição profissional.
Habacuque
aparece na história apócrifa de Bel e o Dragão, como aquele que livrou Daniel
da cova dos leões pela segunda vez; porém, tudo isso não passa da lenda.
Data e ocasião: Em Habacuque
1.6 somos informados que Deus estava levantando os caldeus (isto é, os
babilônios) como um instrumento de castigo. Sem dúvida isso se refere ao
império babilônico revivificado, que derrubou o enfraquecido império assírio no
fim do quinto século a.C. Nínive foi destruída em 612 a.C. e Nabucodonosor, rei
da Babilônia, derrotou Faraó Neco, do Egito, em Carquemis, em 605 a.C.
Três
anos antes dessa batalha, Faraó Neco matou Josias, rei de Judá, em Megido (2 Reis
23.29-30; 2 Crônicas 35.20 e seguintes), e estabeleceu reis títeres sobre o
trono de Judá, porém, nem Faraó Neco nem eles eram adversários para o crescente
poder da Babilônia, e assim, durante os vinte anos seguintes, Judá ficou à
mercê dos caldeus e foi finalmente levado em cativeiro, em 586 a.C.
As
profecias de Habacuque se referem claramente a esse período e podem ter sido
entregues a público, ou antes, ou depois da batalha de Carquemis. Em ambos os
casos, Habacuque teria sido contemporâneo de Jeremias (627586 a.C.). Em favor
da data mais antiga temos a sugestão, em Habacuque 1.5, que o levantamento dos
caldeus ainda era acontecimento futuro e, no tempo em que o profeta falou, era
ainda algo que fazia as pessoas se admirarem (E. B. Pusey, por exemplo, data a
profecia tão cedo como o fim do reinado de Manassés, isto é, tão recuada como a
frase em vossos dias, em Habacuque 1.5, permite); em favor de uma data depois
de 605 a.C. temos a descrição detalhada dos métodos de guerra dos caldeus, como
algo já bem conhecido (Habacuque 1.7-11). O reinado do mau rei, Manassés fora “uma época que provou a fé das almas piedosas” (Kirkpatrick). A reforma sob o rei Josias (637-608 a.C.) se tinha mostrado
ineficaz, pelo que a iniquidade e a perversidade (Habacuque 1.3) da desviada Judá
deveriam ser castigadas. Por esse motivo Deus estava levantando os caldeus.
Esse o
ponto de vista geral dos eruditos. Alguns, entretanto, referem Habacuque 1.2-4
não à desviada Judá, mas a algum opressor pagão. Esse opressor poderia ser a própria
Caldéia; nesse caso, o texto teria de ser rearranjado para que os versículos
5-11 precedessem os versículos 2-4 (Giesebrecht) ou deveriam ser eliminados
(Wellhausen). Ou o opressor poderia ter sido a Assíria: assim pensa Budde, que
coloca os versículos 6-11 após 2.2-4, e data a profecia logo depois de 625
a.C., quando Nabopolassar, o caldeu, se tornou independente da Assíria. Mas,
nesse caso, por que a Assíria não é mencionada? Em terceiro lugar, há a possibilidade
de referir-se ao Egito: assim pensa G. Adam Smith, que compara Habacuque 1.2-4
com 2 Reis 23.33-35.
Porém,
a queixa de Habacuque, em 1.12-2.1 não é que Deus estava usando uma nação pagã
para castigar outra, mas antes, que o Senhor estava usando uma nação pagã para
punir Judá. A despeito de a lei haver sido redescoberta no templo, em 621 a.C.
(2 Reis 22.8; conforme Habacuque 1.4), o povo de Judá se inclinava para a
violência e para a injustiça. O rearranjo do texto, para adaptar-se a uma teoria
particular, é sempre um expediente duvidoso. Parece mais seguro aceitar o texto
tal qual está e atribuir Habacuque 1.2-4 ao povo de Judá.
Um
crítico conservador, W. A. Wordsworth, situa a entrega da profecia um século
antes, fazendo Habacuque ser contemporâneo de Isaías, com cujas profecias
encontra ele muitas afinidades em Habacuque. A data fixadora é, então, a
captura de Babilônia pelo caldeu Merodaque-Baladã, em 721 a.C.
Outros,
com certa base de apoio à sua posição da parte das versões gregas, omitem
inteiramente a palavra “caldeus”, em Habacuque 1.6, ou então, juntamente com Duhm,
substituem-na pela palavra “Quitim”, isto é, gregos cipriotas, assim colocando o livro nos dias de
Alexandre, o Grande, cerca de 330 a.C. Tais pontos de vista exigem considerável
manuseio no texto e não são muito plausíveis. Mas é interessante notar que os
Papiros do Mar Morto, recentemente descobertos, que contêm o comentário de
Habacuque embora lhe falte a primeira metade de Habacuque 1.6 traz a seguinte
nota a respeito: “interprete-se
(isso) como os Quitim, cujo temor está sobre todas as nações”. Isso, entretanto, pode ter sido apenas uma “aplicação moderna” de uma situação mais antiga. Parece melhor, por conseguinte, situar a
data do livro de Habacuque cerca de 600 a.C., ou um pouco antes.
Texto e Composição: O
significado do texto hebraico nem sempre é claro e a Septuaginta apresenta algumas
poucas, mas interessantes variações, como, por exemplo, a grande afirmativa
em Habacuque 2.4, que, em um texto da Septuaginta é “totalmente messiânica” (T.
W. Manson). A incerteza quanto a quem se referem várias passagens tem levado
muitos críticos a rearranjar o texto e, em alguns casos, até a dividir a autoria
do livro. Para alguns, Habacuque seria o autor dos capítulos 1 e 2; para outros,
seria ele o autor do capítulo 1 e da maior parte do capítulo 2, enquanto o
capítulo 3 seria um poema posterior, do período persa ou dos macabeus. Mas
muitos, à semelhança de Kirkpatrick, de J. Peterson, e de outros, preferem considerar
o livro como um todo artístico e relacionado.
Parece
que a intenção da profecia era de ser lida e não de ser ouvida (ver Habacuque 2.2).
Tem mais a natureza de um poema especulatório e meditativo do que um sermão ou
discurso público. O salmo, no capítulo 3, evidentemente tinha o propósito de
encorajar o povo de Deus em período de adversidade.
Julgamento Divino da Babilônia Habacuque (3.12): O Livro de Habacuque segue logicamente o de Naum no julgamento divino
do segundo maior inimigo de Israel, o destruidor vindo do Oriente. Embora tanto
Nínive quanto Babilônia tenham sido usadas pelo Senhor para destruir Israel no
norte e Judá no sul (Isaías 7.18-20; Jeremias 27.6), ambas foram também
julgadas pela violência. Esses dois livros registram o castigo dessas duas
nações por sua conduta sanguinária e perversa, não tolerada nem aprovada por
Deus. Ambos os livros revelam a grande ansiedade inspirada pelo Senhor e sua
grande ira ao vir em julgamento para realizar pessoalmente a destruição.
Santidade de Deus (Habacuque 1.12; 2.20; 3.3): O maior interesse de Habacuque é pela santidade divina com respeito
tanto à perversidade de Israel, quanto à soberba da Babilônia. Ele se afligiu
por Deus permitir que o pecado continuasse em Judá sem punição, e depois preocupou-se por
Deus usar a Babilônia como instrumento punitivo, nação ainda mais perversa.
Esse problema e a respectiva resposta estão imortalizados em dois clássicos
versículos: “Tu és tão
puro de olhos, que não podes ver o mal”. (Habacuque
1.13). “Mas o Senhor está no seu santo templo: cale-se
diante dele toda a terra”. (Habacuque
2.20). Se o Senhor é longânimo com os pecadores e até escolhe “vasos de ira” (Romanos 9.22) para executar os seus objetivos, não faz, todavia,
concessões em assuntos onde está em jogo sua santidade. Permite, com frequência,
que o pecado siga o seu curso normal e se destrua a si próprio dentro do seu
plano, demonstrando assim a soberania e a grandeza da sua santidade e justiça.
“O justo viverá pela sua fé”. (Habacuque 2.4): Habacuque tem sido denominado de “o livro que começou a Reforma”.
Paulo citou Habacuque 2.4 ao desenvolver a doutrina da justificação pela fé
em Romanos 1.17 e Gálatas 3.11, e esse foi o lema de Lutero e dos Reformadores.
Essa frase é também citada em Hebreus 10.38, e as três citações
do Novo Testamento têm uma progressão interessante, quanto à ênfase:
Em Romanos 1.17, a ênfase está em “O justo”; em Gálatas 3.11, em “viverá”;
e em Hebreus 10.38, em “pela fé”. Todos os três pontos estão enfatizados em Habacuque. Poucos
versículos da Bíblia têm participado com tão profundo efeito no desenvolvimento
da teologia e da proclamação da fé.
Frases citadas com frequência: O pequeno livro de Habacuque é notável pelos seus muitos textos
citados:
1. “Vós não crereis, quando vos for contada”. (Habacuque 1.5).
2. “Tu és tão puro de olhos, que não podes ver o
mal”. (Habacuque 1.13).
3. “Mas o justo viverá pela sua fé”. (Habacuque 2.4).
4. “Porque a terra se encherá do conhecimento da
glória do Senhor, como as águas cobrem o mar”. (Habacuque 2.14).
5. “Ai daquele que dá de beber ao seu
companheiro”. (Habacuque 2.15).
6. “Mas o Senhor está no seu santo templo:
cale-se diante dele toda a terra”. (Habacuque
2.20).
7. “Aviva, ó Senhor, a tua obra no meio dos anos”.(Habacuque 3.2).
8. “Exultarei no Deus da minha salvação” (Habacuque 3.18).
Ousado diálogo de Habacuque com Deus: Ao contrário de outros livros proféticos, Habacuque é mais uma oração
do que uma profecia. O preocupado profeta ousa dialogar com Deus, enfrentando-o
com perguntas que parecem desafiar tanto a santidade quanto o amor do Senhor.
Essa oração continua em todo o livro, enquanto o profeta faz a pergunta e
espera a resposta de Deus. Constitui também um sistema de ensino muito
eficiente, propondo perguntas difíceis e elaborando respostas com autoridade divina.
Isso foi denominado posteriormente de método “rabínico” ou “socrático”,
e usado por Jesus com muita eficiência (Mateus 24.42 e seguintes). A fé divina
de Habacuque é tão vigorosa e profunda, que ele pode expressar honestamente
suas dúvidas e ficar satisfeito quando o Senhor responde com novos apelos à fé.
Cristologia em Habacuque (2.14,20): Esse livro também não apresenta referências específicas ao Messias,
apenas diversas inferências da era messiânica. Em Habacuque 2.14, o profeta
declara que o conhecimento da glória do Senhor será universal. É uma inegável citação
e acréscimo de Isaías 11.9, onde o antigo profeta descreve certos
aspectos dos tempos messiânicos. Habacuque especifica que o conhecimento universal
será referente à glória do Senhor. O contraste é com os que labutam
inutilmente, até ao derramamento de sangue, pela breve e passageira glória de reinados temporais.
O conhecimento da glória do Senhor, a qual está atualmente quase escondida,
cobrirá e encherá então a terra.
Uma
segunda inferência messiânica é a exortação “Cale-se diante dele toda a terra”, bem como “O Senhor
(...) está no seu santo templo” (Habacuque
2.20). Existem afirmações semelhantes em Sofonias 1.7 e Zacarias 2.13, quando
anunciada a vinda do Senhor no Dia do Senhor. Do mesmo modo, Apocalipse 8.1
fala de um período de silêncio no céu antes do desencadeamento da ira de Deus
na última metade do período de tribulação. Aqueles julgamentos do Apocalipse são
vistos continuamente como procedentes do Senhor no seu santo templo, enfatizando
a santidade de Deus e o despejar de sua justiça e ira (Apocalipse 8.4;
14.15,17; 15.8; 16.1,17). Parece que essa é também a idéia de Habacuque quando
ele apresenta o salmo da ira de Deus contra as nações, em sua descrição da
teofania militante e majestosa (Habacuque 3.3-16).
Ao
falar de Habacuque, nós estamos falando do zelo do Senhor pelo Seu povo, apesar
do seu pecado, punindo também aqueles que zombam do seu sofrimento e do Seu
zelo pela Sua própria santidade, pois quando Seus escolhidos cometem iniquidades
e atrocidades, Seu nome santo é envergonhado. O que Ele pede de nós é a
humildade e a verdadeira adoração. Dessa forma, o profeta deve ser um
instrumento de zelo do Senhor onde há pecado, irreverência, abominação, falta
de temor e desconhecimento do Deus verdadeiro. Não devemos permitir que o mundo
nos influencie ou que as coisas do maligno e da carne nos seduzam e nos desvie
da verdade, pois tudo isso deixa uma mácula no nosso espírito e fere o Espírito
Santo que está em nós. Devemos saber que o amor e a misericórdia do Senhor
estarão sempre disponíveis para todos aqueles que se arrependem sinceramente do
seu erro e que a Sua restauração é completa, removendo de nós toda a acusação
do inimigo. É Ele que nos justifica perante os que nos humilharam e nos eleva
perante os que desejaram nos ver cair. Quando estamos no centro da Sua vontade,
Sua proteção e a Sua justiça estão sobre nós. Devemos interceder como Habacuque
por aqueles que estão no erro, mas não carregar o fardo pelos seus pecados e pela
sua rebeldia e idolatria. Quando o pecador rejeita a correção através da boca
do intercessor e do profeta, é hora de deixar a vontade
soberana de Deus entrar em ação para disciplinar, convencer do erro, do pecado,
da justiça, do juízo e, assim, vindicar Sua própria santidade.
Uma
semana abençoada para todos os irmãos, na Paz do Senhor Jesus Cristo!
Márcio Celso
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
Editora Betel 3º
Trimestre de 2023, ano 33 nº 128 – Revista da Escola Bíblica Dominical - Jovens
e Adultos – Professor – Profetas Menores do Antigo Testamento – Proclamando o
arrependimento, justiça e fidelidade a Deus. Anunciando a esperança da salvação
através do Messias – Pr. Antônio Paulo Antunes.
Jhon Wiclyfe
University - PROFETAS MENORES.
Sociedade Bíblica
do Brasil – 2009 – Bíblia Sagrada – João Ferreira de Almeida – Revista e
Corrigida.
Sociedade Bíblica
do Brasil – 2007 – Bíblia do Obreiro – João Ferreira de Almeida – Revista e
Atualizada.
Editora Vida –
2014 - Bíblia Judaica Completa – David H. Stern, Rogério Portella, Celso Eronildes
Fernandes.
Editora Vida –
2014 – Bíblia de Estudo Arqueológica – Nova Versão Internacional.
Editora Central
Gospel – 2010 - O Novo Comentário Bíblico – Antigo Testamento – Earl D. Radmarcher,
Ronald B. Allen e H. Wayne House – Rio de Janeiro.
Editora Central
Gospel – 2010 - O Novo Comentário Bíblico – Novo Testamento – Earl D. Radmarcher,
Ronald B. Allen e H. Wayne House – Rio de Janeiro.
Editora Vida –
2004 – Comentário Bíblico do Professor – Lawrence Richards.
Editora Central
Gospel – 2005 – Manual Bíblico Ryken – Um guia para o entendimento da Bíblia –
Leland Ryken, Philip Ryken e James Wilhoit.
Editora CPAD –
2017 – História dos Hebreus – Flávio Josefo.
Editora Vida – 2014
– Manual Bíblico de Halley – Edição revista e ampliada – Nova versão internacional
– Henry Hampton Halley – tradução: Gordon Chown.
Editora Mundo Cristão
– 2010 – Comentário Bíblico Africano - editor geral Tokunboh Adeyemo.
Editora CPAD – 2010
– Comentário Bíblico Mathew Henry – Tradução: Degmar Ribas Júnior, Marcelo
Siqueira Gonçalves, Maria Helena Penteado Aranha, Paulo José Benício.
Editora Mundo Cristão
– 2011 - Comentário Bíblico Popular — Antigo e Novo Testamento - William
MacDonald - editada com introduções de Art Farstad.
Editora
Geográfica – 2007 – Comentário Bíblico Expositivo Wiersbe – Antigo Testamento –
Volume 2 – Tradução: Susana E. Klassen.
Editora Geográfica
– 2007 – Comentário Bíblico Expositivo Wiersbe – Novo Testamento – Volume 1 –
Tradução: Susana E. Klassen.